terça-feira, 3 de novembro de 2015

Correção da atividade em grupo sobre a poesia de Alberto Caiero

12.º ano Expressões                                                                                  Correção de atividade
CORREÇÃO DE TRABALHO DE GRUPO                                                      SEQUÊNCIA 1 • Outro(s) eu
Poesia de Alberto Caeiro MANUAL p. 86 (LEITURA ▪ COMPREENSÃO – exercício 1.)
 
1. a. Ao longo de todos os poemas, o “eu” enunciador caracteriza-se como alguém que: – vive das sensações, nomeadamente visuais; – defende uma postura objetivista perante a realidade; – questiona a existência de sentidos que ultrapassam a existência objetiva das coisas; – considera o ato de não pensar como o seu traço constitutivo e, por isso, se sente distanciado da “gente que pensa” (texto C, v. 4); – rejeita convenções e racionalizações; – nega a utilidade do pensamento; – faz a apologia da vida no seio da natureza.

b. Em todas as composições, o sujeito lírico expressa: – estranheza face à interpretação racional da realidade; – descontentamento perante a sua ocasional propensão para o pensamento; – satisfação por viver pelos sentidos.

c. Exemplos da exploração da dicotomia pensar/sentir:
Texto A: vv. 5 a 9.
Texto C: vv. 1 a 4, 10-11 e 20-21.
Texto B: vv. 14 a 17. Texto
D: vv. 6-7 e 16-17.

d. Importância das referências: – aos “poetas” (texto A, v. 14): a menção aos “poetas” assume um carácter crítico face à utilização subjetiva da linguagem, que se opõe à objetividade e simplicidade dos elementos naturais. – aos “homens” (texto B, v. 15): com a alusão aos “homens”, o sujeito poético demarca-se deles, dos seres gregários que, ao contrário de si próprio, vivem afastados da natureza e sentem necessidade de se servir de convenções, como a linguagem verbal, para comunicarem. – à “gente” (texto C, vv. 4, 13 e 14): o nome “gente” surge no poema como elemento oposto à “Terra”; esta existe espontânea e naturalmente, ao passo que aquela se caracteriza pela “consciência”, que o sujeito poético rejeita. – aos “poetas” e “filósofos” (texto D, vv. 11 e 12): as referências aos “poetas” e “filósofos” são usadas pelo eu lírico para amplificar a estranheza que, aos olhos dos seres racionais, pode causar a naturalidade da mera existência das “cousas”. Não corrompidas pelo “sentido oculto” que “os sonhos” ou “os pensamentos” dos seres humanos, nomeadamente aqueles que se dedicam à reflexão, como os poetas e os filósofos, lhe pretendem atribuir, essas “cousas” não possuem qualquer “mistério”.

e. As frases interrogativas denunciam a admiração do sujeito poético face às interpretações metafísicas da existência e da natureza e marcam o seu distanciamento relativamente a essas teorias, através das afirmações apologéticas do sensacionismo que se lhes seguem.

f. Texto A: A frase, metafórica e em discurso parentético, resume a tristeza do sujeito poético face à dependência dos seres humanos do pensamento, que cobre a espontaneidade das sensações.
Texto B: Através da afirmação, o eu lírico demarca-se dos outros homens, que nomeiam, através da linguagem verbal, o que para si só tem existência sensorial. Desse modo, considera que, ainda que “invisíveis”, as palavras são “mentiras”, porque criações humanas.
Texto C: A frase “[…] exprime o descontentamento do “eu” consigo mesmo por se ter surpreendido a perguntar-se “cousas”, isto é, a pensar, o que significa ter-se traído, por momentos, a si próprio, caindo no erro que critica nos outros. Mesmo que momentânea, esta contradição provoca-lhe, ao aperceber-se dela, um desagrado e um desconforto quase físicos (cf. v. 9)”.
Texto D: Com a frase, o sujeito poético declara o seu sensacionismo e a forma como concebe o mundo; rejeitando a “significação” que os seres humanos acrescentam às “cousas” através da linguagem, afirmando conhecê-las apenas pela sua materialização.

g. Sentidos produzidos pelas formas verbais: – “veríamos” (texto A, v. 2): O uso do condicional, associado ao tom interrogativo (irónico) da frase em que é utilizado, destaca a improbabilidade de o sentido da visão se equivocar na apreensão das realidades. – “Pergunto” (texto B, v. 3) e “penso” (texto D, v. 6): A utilização de formas do verbo perguntar e pensar, ações que o sujeito poético reiteradamente recusa, denuncia a impossibilidade de concretização plena da teoria antimetafísica caeiriana e expõe as suas contradições, uma vez que, para refletir sobre a inutilidade do pensamento, o “eu” enunciador exerce a atividade reflexiva que critica e rejeita. – “pensasse” (texto C, v. 16): Com o recurso ao imperfeito do conjuntivo, o sujeito lírico avança a hipótese de se dedicar ao raciocínio, apresentando, em seguida, as consequências negativas dessa atitude. Contudo, a utilização do modo conjuntivo adquire uma conotação irónica, uma vez que ocorre na sequência de pensamentos reais do sujeito poético, que o mesmo procura rejeitar através da expressão, como conjetura, de uma ação que efetivamente pratica.

h. “Pelas suas características oralizantes – vocabulário simples e corrente, repetições, frases curtas, frases interrogativas, reticências, recurso a perguntas e respostas – o discurso poético aproxima-se da fluidez coloquial da fala, recriando o aspeto de uma linguagem despojada de artifícios, coerente com a simplicidade comunicativa das ideias que apresenta.” (in Explicitação dos critérios de classificação e respetivas cotações – Prova Escrita de Português B – 2002, 1.ª fase, 1.ª chamada).

i. Recursos que contribuem para a “simplicidade da linguagem” de Caeiro: – “liberdade da palavra essencial e poética, face a esquemas versificatórios e rimáticos”: ausência, em todos os poemas, de regularidade estrófica, métrica e rimática. – “simplicidade e carácter concreto do vocabulário, quase todo do campo lexical da natureza”:
• texto A: “cousas” (v. 1), “estrelas” (v. 14), “flores” (v. 15);    
• texto B: “luz” (v. 1), “cousas” (v. 2), “flor” (v. 6), “fruto” (v. 7);
• texto C: “sombra” (v. 5), “terra” (v. 12), “pedras” (v. 12), “plantas” (v. 12), “cousas” (v. 16), “árvores” (v. 17), “Céu” (v. 21);
• texto D: “cousas” (v. 1), “rio” (v. 4), “árvore” (v. 4), “regato” (v. 7), “pedra” (v. 7). – “parco uso de adjetivos”: • texto A: utilização de apenas cinco adjetivos (“tristes”, v. 10; “vestida”, v. 10; “profundo”, v. 11; “eternas”, v. 14, e “convictas”, v. 15);
• texto B: presença de quatro adjetivos (“perfeita e exata”, v. 1; “Invisíveis”, v. 15, e “próprio”, v. 18);
• texto C: recurso a três adjetivos (“natural”, v. 1; “sozinho”, v.2, e “dormente”, v. 9);
• texto D: utilização de cinco adjetivos (“fresco”, v. 7; “único”, v. 8 e 17; “oculto”, vv. 8, 9 e 17; “estranho”, v. 10, e “sozinhos”, v. 15).
– “recurso a tautologias, simetrias, paralelismos de construção”:
• tautologias: texto A, vv. 1, 4, 16 e 17; texto D, vv. 8-9.
• paralelismos de construção: texto A, vv. 2-3, 6-7, 8-9; texto B: vv. 16-17; texto D: vv. 16-17. – “uso predominante da coordenação”, sindética e assindética, nos quatro poemas.
– “pontuação predominantemente lógica”, em todos os textos, com prevalência do ponto final e da vírgula, com pontuais utilizações do ponto de interrogação e quase completa ausência do ponto de exclamação e das reticências.
– “parco recurso a figuras de estilo, com exceção da comparação (texto C, v. 9; texto D, v. 7), da metáfora-base que ele próprio é, e do oxímoro que é também o seu próprio pensamento antipensamento (texto A, v. 10; texto B, v. 3, texto C, vv. 6-9, texto D, v. 6)”.
 
EXP12 © Porto Editora

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